

Além da situação de cárcere privado, a
polícia encontrou no local um caderno onde eram anotadas as dívidas das
meninas, como gastos com passagens, alimentos e vestimentas, além de “multas”
por motivos diversos.
Ameaça de morte

Ele saiu atrás dela armado e disse que não
custava matar uma, que ninguém ficaria sabendo “Ele saiu atrás dela armado e
disse que não custava matar uma, que ninguém ficaria sabendo”, afirma a garota,
que tem 18 anos. Procedente de Joaçaba, no interior de Santa Catarina, ela
conta que lá trabalhava em uma boate cuja cafetina era “sócia” do dono da boate
no Pará. “Viemos em nove lá de Joaçaba. Falaram para a gente que seria muito
bom trabalhar em Belo Monte, que a gente ganharia até R$ 14 mil por mês, mas
quando chegamos não era nada disso”, conta. “Já de cara fizemos uma dívida de
R$ 13 mil por conta das passagens [valor cobrado do grupo]. Aí temos que
comprar roupas, cada vestido é quase R$ 200, e tudo fica anotado no caderninho
pra gente ir pagando a dívida. E tem também a multa, qualquer coisa que a gente
faz leva multa, que também fica anotada no caderno. Depois de cada cliente, a
gente dava o dinheiro para o dono da boate pra pagar as nossas dívidas, eu
nunca ganhei nenhum dinheiro para mim”, explica a garota.
Se desse muita fome, a gente tinha que
comprar um lanche. O gerente da boate dizia que a gente só poderia sair depois
de pagar as dívidas Sobre as condições às quais foram submetidas na boate, ela
conta que morava com outras três meninas em um pequeno quarto muito quente, e
que realmente não tinha permissão de sair do local. “Eles ligavam o ar
condicionado só por uma hora. A gente tinha que trabalhar 24 horas por dia;
quando tinha cliente, tinha que atender”, afirma.
“De comida, tinha almoço e janta. Se você
estava trabalhando na hora do almoço, tinha que esperar a janta. Se desse muita
fome, a gente tinha que comprar um lanche. O gerente da boate dizia que a gente
só poderia sair depois de pagar todas as dívidas, e que nem adiantava reclamar
porque ninguém ia nos ajudar, ele era amigo da justiça e nunca ninguém ia fazer
nada contra ele. Mas ele disse que se a gente falasse, eles iam atrás dos
nossos filhos e parentes lá no Sul.”
Belo Monte
Sobre os clientes, ela conta que eram
exclusivamente trabalhadores de Belo Monte. “Eram operários, eram gerentes,
tinha de tudo. Todo mundo que trabalha na obra vinha na boate”, explicou.
O delegado Rodrigo Spessato diz não saber
se o prostíbulo está dentro ou fora dos limites do canteiro de obras. A
conselheira Lucenilda Lima relata, no entanto, que para chegar à boate foi
preciso atravessar o canteiro de Pimental, um dos principais da usina. “Foi uma
burocracia na entrada para a gente conseguir passar. E lá mesmo toda hora
passavam os carros e tratores de Belo Monte, então eu considero que a boate
está na área da usina”.
Na ação, a polícia civil efetuou a prisão
de dois funcionários da boate, mas não encontrou o proprietário. Segundo
Spessato, além de exploração sexual de menor, cárcere privado e regime de
escravidão, o caso poderá ser caracterizado como tráfico de pessoas, e os
responsáveis pelo prostíbulo, processados por estes crimes.
Como o canteiro de Pimental fica no
município de Vitória do Xingu, o caso está sendo apurado pela delegacia dessa
cidade. O delegado local chegou a Altamira na manhã desta quinta-feira para
tomar os depoimentos das vítimas e dos dois funcionários presos, e uma nova
ação voltará à boate ainda esta tarde, para fechar o estabelecimento e resgatar
10 mulheres que permaneceram no local.
Por: Verena Glass
Fonte: http://reporterbrasil.org.br
Imagens: Carlos Calaça.
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