DEPOIMENTO À COMISSÃO DA VERDADE REVIVE A
MORTE DE JK, 37 ANOS DEPOIS
São Paulo vivia uma noite fria de um
domingo de 1976. Eu tomava um café na padaria da esquina quando a notícia se
propagou no balcão: o ex-presidente Juscelino Kubitschek falecera em um
acidente automobilístico na Dutra.
Assassinato
Já no velório comentava-se que “os generais”
tinham executado JK, para que ele não voltasse à presidência após a anistia,
que só viria, pelas mãos de Figueiredo, em 1979.
Na Comissão da Verdade
Depôs ontem (01.10), na Comissão da
Verdade, Josias Nunes de Oliveira, 69 anos, que presenciou, do ônibus que
dirigia, a colisão que matou o JK, na Via Dutra.
Josias repetiu o que disse à Justiça em
1976: o ônibus que ele conduzia foi ultrapassado por um Opala em alta
velocidade, que ao invés de seguir a curva, prosseguiu em linha reta,
atravessando o canteiro central até a pista contrária, onde colidiu com um
caminhão Scania.
“Nem ele bateu em nós, nem nós batemos
nele. Parei o ônibus para socorrer. Não sabia quem estava no Opala. Mas não
teve socorro. O motorista já estava morto e ainda vi o presidente piscar duas
vezes antes de morrer”. Narrou Josias.
Josias confirmou à Comissão que cinco dias
depois do acidente, dois homens estiveram na casa dele e lhe ofereceram
dinheiro para que assumisse que havia fechado o Opala, causando o acidente. Com
medo, ele recusou a oferta.
Josias foi inocentado do homicídio culposo
porque a perícia comprovou que um arranhão na lataria do ônibus era de uma
tinta usada em anilhas de proteção na rodoviária de São Paulo e não do
Opala de
JK.
A perícia encontrou um material metálico no
crânio de Geraldo Ribeiro, o motorista de JK, daí ter surgido a notícia de que
um tiro de fuzil o teria atingido, por isso o Opala desgovernou e foi parar na
pista oposta.
O AI-5
Em 13.12.1968 a ditadura decretou o Ato
Institucional n° 5, que ficou conhecido como o “Golpe dentro do golpe": a
linha dura do Exército assumiu ali as rédeas do regime.
Naquela noite, JK paraninfava uma turma de
engenharia no Rio de Janeiro. À saída foi preso por vários dias e “aconselhado”
a sair do Brasil.
Exílio e a volta
A partir de 1968 JK exilou-se por duas
vezes e voltou ao Brasil, definitivamente, ainda sob a ditadura, por volta de
1971, quando comprou uma quinta nas bordas de Brasília, mas a ditadura o
proibiu de pisar na capital.
Em janeiro de 1972, clandestinamente, na
boleia de um velho caminhão Ford, JK revisitou a cidade que construiu. Ouvida
do próprio Juscelino, a visita foi narrada pelo jornalista Carlos Chagas no
artigo, publicado em “O Estado de S. Paulo”, “Brasília não vê JK chorar".
Não sei se é lenda urbana, mas conta-se que
em um dos bolsos do paletó do ex-presidente, quando lhe despiram as vestes do
corpo fenecido, estava o recorte do jornal, com o artigo de Carlos Chagas.
De volta ao Planalto Central
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